Lembra da época da faculdade… quando tínhamos que fazer trabalho em grupo… lembra que sempre tinha alguém que não fazia nada? Bom. Esse texto é sobre isso.
Em 2012 ou 13 eu li um texto na 99U, escrito pelo Ron Friedman, que no título perguntava o seguinte “Por que, muitas vezes, trabalhar colaborativamente leva a resultados mais fracos?” Eu fiquei louco com aquilo né. Na época, a Shoot The Shit estava nascendo e tudo que eu não queria ouvir era que o meu discurso de colaboração tinha um Calcanhar de Aquiles. E tinha, tem e sempre terá. Que bom que eu soube disso lá atrás: trabalhar colaborativamente tem hora, nem sempre dá certo e que não funciona com qualquer um.
Vamos começar avaliando a matemática dos relacionamentos. Em um casamento, a aritmética é simples. Um mais um é igual a dois. Cada parceiro tem suas forças individuais e, em conjunto, o par é razoavelmente compatível. Em casamentos não saudáveis, a matemática já é diferente, um mais é igual a um. Tipicamente, é porque alguém está segurando o outro nas costas ou porque um anula a potência do outro. Relacionamentos bem-sucedidos são mais interessantes. Provavelmente você já viu um, ou talvez tenha tido a sorte de experimentá-lo. Suponhamos: o marido é um chef talentoso, a esposa uma engenheira incrível. Ele ensina as crianças História, ela ensina geometria e física. Ele é visionário, ela é super organizada. Juntos, eles são mais do que a soma de suas partes, e é aqui que a aritmética se torna exponencial. Para eles, um mais um é igual a três.
Por isso eu digo que Braga foi, sem dúvida, a minha melhor dupla de criação. Nós funcionamos MUITO BEM juntos. A forma como a gente criava era sensacional. Primeiro, temos estilos de ideias diferentes, mas sabemos reconhecer na fala do outro quando uma ideia é foda. A gente tem uma cultura muito forte de construir em cima da ideia um do outro. Então, uma ideia nunca é ruim, ela só não tá pronta ainda. E para completar, temos um senso de humor muito parecido, o que torna o processo de trabalhar junto muito mais divertido e agradável. Nós somamos 3. Braga, love ya.
Mas por que colaboração em outros ambientes de trabalho geralmente falha?
Na teoria, o trabalho colaborativo é a forma mais inteligente de organização profissional principalmente lidando em situações complexas. Colocando cabeças diferentes para trabalhar juntas, nós conseguimos endereçar os problemas com um poder intelectual superior, chegar a soluções mais representativas, ter diferentes pontos de vista sobre a mesma questão, evitar pontos cegos do projeto, reduzir erros. Por aí vai.
A lógica parece óbvia: põe a galera pra trabalhar junto que o resultado vai ser melhor. E é aí que surgem os paradoxos.
- Trabalhos colaborativos geram falsa confiança. O aumento de confiança que ganhamos ao trabalhar em equipe é estimulante no curto prazo mas também dificulta nosso julgamento a longo prazo. Nós nos tornamos cegos a informações externas que podem nos levar às melhores escolhas. Nos tornamos excessivamente confiantes no nosso pensamento coletivo.
- Trabalhos colaborativos induzem consenso. Dentro de muitos projetos, enfrentamos uma questão impossível: escolher entre a qualidade do trabalho e a qualidade das relações no local de trabalho. Quantas vezes já vimos os membros de um grupo se conformarem com a visão/opinião da maioria, mesmo nos casos em que eles sabem que a visão da maioria está errada.
- Trabalhos colaborativos geram preguiça. Lembra da época da faculdade… quando tínhamos que fazer trabalho em grupo… lembra que sempre tinha alguém que não fazia nada? Quantas vezes você é o único preparado? Essa é uma tendência social natural — a de investir menos esforço quando fazem parte de uma equipe. Quando outros estão presentes, é fácil para todos assumir que outra pessoa assumirá a liderança.
Esses paradoxos emergem sobre um dos problemas principais, no meu ver: o custo de oportunidade. Refere-se a todas as tarefas que você não está fazendo enquanto você está ocupado “colaborando”.
A colaboração parece mais produtivas do que é, em parte, por causa da maneira como as nossas mentes enxergam ela. É fácil se sentir produtivo quando fazemos parte de um grupo, ouvindo as idéias dos outros e contribuindo com nossos comentários. “Construindo juntos”. Especialmente quando comparado à alternativa: sentado em nossas mesas, olhando para baixo com o papel em branco, tendo que resolver as coisas sozinhos. Se mal conduzido, o progresso é meramente ilusório.
Bom. O texto já tá longo e dá pra ficar aqui horas.
Pra finalizar, além de um grande aprendizado sobre definir responsabilidades no início de um projeto, que não quero entrar em questão agora, queria contribuir uma coisa que acho meeeega importante: as pessoas precisam saber trabalhar sozinhas. O famoso ‘dever de casa’.
McCartney e Lennon são vistos como uma dupla compositora, mas a verdade é que eles concebiam suas músicas sozinhos. Eles colaboravam depois de ter avançado ao máximo que podiam, e estavam prontos para receber sugestões do outro. A maior parte do trabalho criativo inicial acontece quando estamos trabalhando sozinhos. Nós estaremos numa posição melhor para avaliar nossas ideias se tivermos investido algum tempo pensando na questão. Por isso: use o tempo de reunião para trocar idéias e não gerá-las.
Chego a uma conclusão muito simples: trabalho colaborativo ≠ trabalho em grupo. O trabalho colaborativo busca a soma 3.
Buenas. Pode um mais um ser igual a três? Na teoria, sim. Mas chegar lá requer um novo tipo de pensamento, que reconhece as armadilhas das colaborações e acolhe com uma perspectiva REAL que a maioria das empresas gosta de evitar: apenas reconhecendo nossas fraquezas que podemos descobrir nossas forças (compartilhadas).
Pra trabalhar colaborativamente temos que saber que não somos perfeitos e precisamos de ajuda.
Texto traduzido livremente, adaptado e construído em cima, daqui.
Esse texto foi escrito pelo Gab e enviado para quem segue nossa newsletter no dia 07/09/17.