Polarização. Extremismo. Bolha social. Fake news. Desinformação. Vazamento de dados. A favor ou contra.
As palavras do título são algumas das que seguem ditando as mensagens e conteúdos nas redes sociais. Do Facebook ao Twitter. Ontem mesmo vi uma postagem de uma pessoa no LinkedIn (sim, até lá) falando sobre o posicionamento da Tabata Amaral na votação da previdência. Se posicionar sobre política chegou ao mainstream em todos os canais.
Em 2013, 2014 talvez, eu em algum dado momento, acessei a página do então possível candidato à presidência, Jair Bolsonaro, para ver quem eram os meus contatos que estavam curtindo aquela página e consumiam verdadeiramente seu conteúdo. Me desconectei de 80% deles. O pensamento era claro: não quero ler sobre o que não concordo. E mais do que isso, além de me desconectar, eu comuniquei o que estava fazendo, uma sugestão clara de o que eu pensava que todos deveriam fazer.
De um tempo pra cá, tenho pensado cada vez mais que talvez essa tenha sido a minha contribuição para que alguns caminhos tenham seguido para um rumo que eu não concordo.
Então, a minha proposta para agora será diferente. Se do jeito que eu agi me levou para um caminho que eu não gosto, vou tentar o caminho contrário. E quero, com esse texto, trazer algumas provocações para que a gente reflita mais sobre esse pensamento. Não tenho a pretensão de achar que esse é o caminho certo. SEI LÁ. Mas isso é um grande eu quero tentar.
Estou disposto a tentar me conectar com todas as pessoas que pensam diferente de mim.
Todas aquelas que perdemos a afinidade ou construímos distâncias pelos nossos posicionamentos divergentes. Abaixo vou tentar explicar minhas motivações.
Falar sobre o que pensa é importante, mas ouvir também é.
Pode parecer simples, conforme diz William Ury, mas ouvir é um exercício que não fazemos. Não somos ensinados a ouvir como somos ensinados a falar e a escrever. Imaginem um mundo onde aprendemos a ouvir tanto quanto aprendemos a falar? Aula de escuta ativa no colégio. Quantos laços familiares e amizades teriam sido preservadas se antes de sairmos falando, rolasse uma preocupação em ouvir o outro lado. Você acha que tem bons ouvidos? Você realmente dá 100% da sua atenção quando falam com você?
Se posicionar é importante e exige se colocar em uma posição vulnerável (e tá tudo bem).
Não é raro ouvirmos as pessoas falarem que “as redes sociais deram boca para todas as pessoas, mas elas não estão preparadas”. Eu não discordo 100% dessa afirmação. A questão que me incomoda é que não acho que as pessoas deveriam ler todos os livros e artigos acadêmicos do mundo antes de firmar uma posição. O que precisa ser entendido é que as posições podem mudar. O contexto que se está inserido é alterado a todo momento. Nossos posicionamentos enquanto humanidade já mudaram zilhões de vezes desde que o ser humano começou a pensar. Então, se posicione, mas saiba que você pode mudar de opinião e que isso não te fará um traidor de nenhum movimento.
Mudar de opinião exige se colocar em uma posição de vulnerabilidade, que como diria Brené Brown. Não é sobre ganhar ou perder, é sobre ter coragem de se expor, mesmo sem poder controlar o resultado.
Seguindo nesse contexto, quero deixar aqui quais são meus posicionamentos atuais sobre duas políticas que estão sendo debatidas no Brasil atualmente. Vai ser difícil escrever muito e defender com unhas e dentes qualquer uma delas, pois não consigo dizer que tenho 100% de certeza sobre qualquer uma delas.
Eu apoio a descriminalização das drogas no Brasil. TODAS, da maconha até a cocaína. Doideira né? Sei que tem diversas variáveis que eu posso não estar levando em consideração, por desconhecimento mesmo. Sou mais um que não é perito no assunto querendo me posicionar. E claro, algumas informações que tive acesso moldaram o que penso sobre isso. Compartilho com vocês abaixo algumas delas:
- O estado não pode interferir em decisões pessoais que não ferem terceiros. A proibição do consumo de drogas viola a vida privada, a intimidade e a liberdade individual. Usar drogas, lícitas ou ilícitas, prejudica o indivíduo, não a comunidade.
- Deixar de ser crime faria com que os usuários fossem tratados como doentes, não como criminosos. Presídios abarrotados de pessoas presas por porte de drogas.
- Hoje qualquer campanha sobre drogas pode ser vista como apologia ao uso. Descriminalizar abre espaço para o governo e demais entidades criarem campanhas de conscientização para educar sobre drogas.
- A grana investida nessa Guerra às Drogas, que do ano que foi criada até agora não conseguiu fazer o número de usuários diminuir. Apenas aumentou o número de presos e de mortes nessa disputa.
Eu sou contra o porte de armas para o cidadão civil. De tudo que li, não consigo encontrar um cenário onde alguém que eu conheça (e conheço até bastante gente) seja razoável portar uma arma para se defender.
“Ah, mas o bandido vai pensar duas vezes antes de assaltar alguém sabendo que esse alguém pode ter uma arma.” Eu até poderia acreditar nisso em algum universo, se não soubesse que no Brasil os bandidos assaltam delegacias e bancos. Ambos têm armamentos para se defender, e mesmo assim, correm um risco enorme. Imagina o que sobrará para o cidadão com uma arma: vai servir para tornar o ambiente mais perigoso ou para ter sua arma roubada no primeiro assalto.
Alguns dados interessantes sobre armas no Brasil:
DAPP FGV: Balas e vidas perdidas: o paradoxo das armas como instrumento de segurança
Algumas notícias impactantes:
G1: Bandidos invadem e assaltam agência bancária no Maranhão
Revista W3: Bandidos invadem delegacia e roubam armamento
Bem, tentei, mesmo que de forma não aprofundada, me posicionar sobre dois temas médio polêmicos nesse texto. A ideia não era apenas falar sobre o que eu acredito hoje, mas convidar quem quiser falar sobre qualquer um desses temas para uma conversa.
Gostaria de fazer uma live, no dia 18/07, nesta quinta, às 13:30 (hora de Brasília), pelo Instagram da Shoot The Shit com alguém que pense diferente de mim. Acredito que 20 minutos seja um tempo interessante. Não vou entrar online sozinho e começar a falar para quem estiver assistindo. A ideia é conversar com alguém diretamente, interagindo também com quem está assistindo, mas, principalmente, ouvindo quem está se expondo. Não quero convencer ninguém sobre posição alguma, mas gostaria que pudéssemos expor sentimentos e angústias em comum.
No final, todo mundo quer resolver os problemas sociais do país. O que ficamos discutindo por muito tempo é sobre a forma como faremos.
Gostou? Vamos conversar?
Mande um email para artur@shoottheshit.cc se o horário sugerido funciona pra você e vamos falar.
Até mais :)
Artur Scartazzini
- William Ury. The power of listening: e se a gente praticasse a escuta tanto quanto praticamos a fala?
- Brené Brow. The Call to Courage: a versão do Netflix, pra mim, está ainda melhor que o seu TEDx.
- Dados sobre armas de fogo no Brasil e no mundo. Interativo e bastante visual. Vale a pena visualizar.
Esse texto foi escrito pelo Artur e enviado para quem segue nossa newsletter no dia 15/07/19.