Eu acho essa pergunta muito foda. Tenho a impressão que ela faz todo mundo pensar. Ela inspira aqueles que tem uma causa clara e causa estranheza naqueles que não conseguem responder.
Mas antes de você refletir como se sentiu ao ler a pergunta, quero fazer uma reflexão a partir de uma pergunta que vem antes dessa, mas de igual importância. O quanto você realmente se importa com os problemas que estão acontecendo na sua cidade, país ou mundão? Sério, quantos minutos por dia você desprende pra pensar sobre como ajudar a resolver esses problemas?
Pra mim, sempre foi meio racional e até mesmo óbvio: quanto mais informações tenho sobre determinado assunto, mais me sinto parte dele e acabo aprendendo a como fazer parte do movimento de alguma forma. As pessoas não estão nos mesmos níveis de consciência sobre todos os assuntos o tempo inteiro. Sempre vai existir a galera que já tá lá na frente quando se trata de protagonizar movimentos e sempre vão existir os retardatários (o Brasil e o mundo estão cheios deles). Fora que existem mais de um formato de participação, não é ou faz ou não faz. Fazer parte de algo grande exige começar pequeno.
E quero ilustrar o meu ponto usando o exemplo da carne. Vocês não acham que já temos informações suficientes pra frear o consumo? Sério, tem pesquisas, documentários, videos, especialistas, uma galera imensa já abordando o assunto. Não comer carne não precisa ser pela causa animal, mas também pode ser por ela.
“Ahhhhh Artur, acho que não tem essa, tá tudo meio mal explicado ainda.”
“Meu tipo sanguíneo precisa.”
“Na internet tem muita informação, mas não sabemos o que é realmente verdade ou não.”
“Acredito no equilíbrio, dá pra comer, mas não precisa comer todo fucking day.”
“Báááá, nunca vou abandonar o churrasco.”
Bem, um tempo atrás fui apresentado aos princípios da mudança comportamental de Prochaska, que coloca em etapas quais são as fases que passamos para mudarmos nossos comportamento, e queria dividir aqui com vocês.
A primeira fase é a pré-contemplação
É quando a gente nega. Não quer fazer parte. Sente medo. Distância. Desconhecimento. No meu ponto de vista, essa é a fase que a grande maioria das pessoas estão para a grande maioria das causas globais que estão sendo discutidas. É a galera das frases ali de cima e aqui abaixo.
“Ahh, mas a Amazônia é grande, não vai dar treta.”
“Me deixa lavar a calçada com mangueira, tem muita água no planeta, é 90% água nessa terra, nunca vai faltar.”
“Tanto faz o lixo que colocar, vai tudo pro mesmo lugar, a prefeitura não faz a parte dela.”
De fato, negar, é a solução mais fácil pra qualquer mudança de comportamento.
A segunda fase é a fase da contemplação
É quando a gente começa a cogitar que seja possível participar. Que talvez faça sentido. Começa a existir uma aproximação entre você e o assunto. Você percebe que não é tão difícil quanto imaginava.
“É, se pá vou assinar essa petição pra que a Amazônia permaneça viva, é só assinar.”
“E se eu usasse a água que sai da máquina de lavar roupa pra lavar a calçada?”
“É, acho que os alagamentos podem ter algo a ver com os lixos descartados incorretamente.”
Estamos sendo bombardeados por muitas informações importantes ultimamente, e a partir daí, começamos a cogitar que talvez algumas batalhas façam sentido.
A terceira fase é a de planejamento
É quando começamos a pensar, caaaaaaaso a gente faça esse movimento, em como faríamos. Que dia a gente começa? Como a gente inicia? Onde isso acontece? É a hora de imaginar cenários onde nos colocamos como protagonistas de transformação.
“Segunda agora vou ir numa reunião sobre o desmatamento que vai acontecer na cidade.”
“Só vou lavar a calçada nas segundas, que é o dia que lavo a roupa.”
“Acho que vou comprar umas lixeiras diferentes e sinalizar elas pra ficar fácil separar o lixo aqui dentro de casa, já vou aproveitar e ver na internet que dias passam as coletas.”
A quarta fase é a ação
É nesse momento que paramos de negar, pensar e planejar como vamos agir e então agimos. É a hora de fazer a sua parte. De tomar uma simples atitude que, se todos fizerem, resolvemos diversos problemas.
“Fui em uma reunião e conversei com as pessoas que estão vivendo na Amazônia, vou ficar do lado deles com o que conseguir fazer.”
“Lavei a calçada e não abri a torneira.”
“Entreguei os lixos certos nas horas certas pra prefeitura, fiz minha parte.”
É esse o momento de maior orgulho que um indivíduo pode sentir, é quando ele tem certeza que tá fazendo a sua parte. Que tá fazendo não só o bem pra si, mas para os outros também.
A quinta, e mais importante de todas as etapas, é a fase de manutenção
Aqui provamos, sempre que podemos, que fazemos parte da causa. Neste momento não deixamos todos os lixos juntos, não usamos água nova pra lavar calçada e lutamos pela Amazônia com as ferramentas que encontramos. E é aqui que mora o perigo, pois caso você, em algum momento, volte ao comportamento anterior, você automaticamente voltará pra fase de pré-contemplação e vai ter que começar todo o processo novamente. Dessa vez mais fácil, pois você já conhece os atalhos.
Não atuo nos mesmos níveis para todas as causas, mas todos os dias penso em melhorar, em me apropriar mais dos assuntos, entender quem são as pessoas que não estão pensando apenas no umbigo delas, mas em mim, em nós. E acredito realmente que se todos pensassem assim, teríamos um lugar com menos problemas.
Não acham? Qual é a sua causa?
Beijo e até a próxima.
- não comam carne
- fora temer
- separem o lixo direito
- fora temer
- plástico foda-se
- fora temer
- salvem a Amazônia
- fora temer
Esse texto foi escrito pelo Artur e enviado para quem segue nossa newsletter no dia 21/09/17.