Para falar sobre trabalho, energia e prioridades.
Se você está lendo isso hoje, na segunda-feira, dia 7 de outubro, saiba que esse texto foi escrito poucas horas antes do envio desse e-mail, e com muito esforço, foi feito sob uma condição de calma, já que quero usar esse espaço aqui pra fazer algumas provocações e levantar reflexões: por que será que estamos tão cansados?
Quem me conhece de forma mais íntima, sabe que eu flerto com ideais socialistas, muito porque eu acredito — de verdade — que é possível um mundo mais justo pra todos, e que esse mundo justo não vai existir dentro do sistema que operamos hoje. Ao passo em que patrimônios bilionários estão concentrados em UMA pessoa só, aqui no Brasil mais de 13,2 milhões de brasileiros vivem com menos de R$90 por mês. Alguma coisa nessa conta não tá equilibrada.
Junto desse desequilíbrio, conseguimos observar uma constante mudança sobre como as pessoas enxergam o trabalho: não trata-se apenas de um mero trabalho, trata-se do nosso propósito de vida, nosso objetivo maior, aquilo que justifica nossa existência. Não é a toa que hoje em dia fala-se sobre o trabalho ser o novo Deus. Plus, estamos vivendo essa nova onda neoliberal de pensamento, que fala sobre sermos os únicos responsáveis pela nossa vida, que nós somos o único obstáculo entre uma vida medíocre e uma vida de “sucesso” (seja lá qual for a métrica de sucesso e quem inventou essa métrica, mas aí já é outro debate). Essa linha, além de descolada da realidade, nos causa um sentimento de constante culpa, já que quando não estamos “trabalhando enquanto eles dormem”, estamos arruinando todo nosso potencial de uma vida incrível.
E mesmo eu, Priscila, sabendo disso tudo, acabo muitas vezes me colocando numa posição de acúmulo de trabalhos e tarefas: é só mais um freela ali, dois projetos autorais aqui, só deixa eu testar isso ali e quando eu vejo, passei mais de 10 horas por dia sentada na frente do computador, sem tempo direito sobrando pra dormir, comer ou aproveitar um tempo com as pessoas que amo. Mesmo sabendo que acabo criando uma rotina não muito saudável de trabalho, esse ritmo frenético me causa um sentimento de utilidade, de valor… eu acabo me deixando levar pelo discurso neoliberal, o que é muito tóxico, e é justamente o que eu tento lutar contra todos os dias, pois esse discurso é o responsável pela romantização de subempregos, normatização de condições totalmente absurdas de trabalho e também pelo aumento dos casos de síndromes de burnout.
Então, galera, tudo que eu diz dizer com essa news foi: a gente precisa relaxar e tomar cuidado pro trabalho não se tornar o centro da nossa vida. Nossa vida vai além dos trampos.
Fiz o e-mail em cima da hora não visando a criação de uma news perfeita, mas querendo trocar uma ideia com quem nos segue de uma maneira honesta: não fiz a melhor news do ano, com certeza, mas ela foi escrita sem que houvesse ansiedade envolvida.
É isso. :)
- Sobre a mudança com a relação de trabalho.
- Sobre o crescimento dos trabalhos informais e subempregos no país.
- Sobre ser bom o suficiente.
Esse texto foi escrito pela Pri e enviado para quem segue nossa newsletter no dia 07/10/19.