Nada como alguns números 1 no calendário pra gente se animar, né? É contagiante o ano novo. Dá vontade de se alimentar melhor, ler aqueles livros que ficaram pela metade, focar na academia e sentar para meditar todos os dias. Agora, cá entre nós que nosso papo sempre foi reto: tá tentando enganar quem?
Não que não seja possível começar uma vida nova e novos hábitos, super é. Mas a procrastinação é um dos maiores males da vida moderna que me aflige e provavelmente você também. Por ironia do destino ou não, eu mesma escolhi escrever essa newsletter, com o tempo que eu mesma estabeleci, com três tasks diferentes no meu asana para contribuir com a minha organização, com muitos post-its pela casa e, sim, estou escrevendo ela apenas algumas horas antes de enviar para você que me lê. E isso não é descaso, falta de organização e nem de vontade. Bem pelo contrário. É como se a cada vez que eu sentasse para começar algo que quero muito fazer, meu cérebro me impedisse. Procrastinar funciona como um bloqueio mental, pronto para inventar uma senha difícil de decifrar.
O que para minha casa é ótimo. Lavo a louça até guardada nesses momentos. Aquela prateleira que tá capenga há meses, é organizada com perfeição. Ou ainda, a desculpa perfeita pra comprar uma caneta-que-funcione-melhor-para-longas-escritas, ou um caderninho novo, ou uma revistinha nova, só pra ter um prazerzinho no dia, afinal, quem não merece um prazerzinho no dia?
Sobrevivência do mais apto
Sim, essa frase é uma espécie de metáfora utilizada por biólogos para resumir um conceito sobre a competição pela sobrevivência. É uma ideia que pode ser vista como uma explicação biológica para nossas constantes mudanças: de foco, de trabalho, de relacionamento, de casa, de tarefa. Meio que isso vem lá dos nossos ancestrais primitivos, vivendo selvagens, lutando pela sua sobrevivência. Enquanto a ansiedade os fazia prever riscos e organizar-se para se defender e fugir de um bicho com uma arcada dentária gigantesca, por exemplo, a mudança de foco e espaço se alterava na mesma frequência. Resumindo: Darwin explica porque é tão difícil focar em uma coisa só. É uma coisa inerente a nós, a nossa condição humana.
Deu uma aliviada no peso aí?
Sua melhor amiga, a ansiedade
Claro que melhor amiga se você gosta de grandes aventuras. No podcast “Todo mundo ama procrastinar?”, uma das convidadas comentou a “adrenalina que dá quando você procrastina até o último minuto e quando você tem só mais uma hora, faz uma coisa bem maravilhosa”. Eu confesso, eu vou viciadinha nessa adrenalina também — o problema é quando o resultado não foi algo tão maravilhoso assim.
A ansiedade (quando controlada né, pessoal, pelo amor de deus) é nossa aliada para sobreviver à uma dentada de leão, assim como dar gás total naquela tarefa que precisa ser entregue daqui 25 minutos.
Procrastinar sem doer
Bem, eu acredito que procrastinar (com limites) é preciso, sim. Nenhuma grande ideia vem do caos (pelo menos não durante o caos).
Para quem trabalha com criatividade, na minha opinião, de uma pessoa que trabalha há 10 anos com comunicação, procrastinar é viver. É uma boia de salva-vidas no mar salinado, saturado de ideias e referências e guardanapo anotado e link salvo e aba aberta e notificação naquela conta fake do insta que te faz precisar respirar, ou melhor, boiar. Fazer a desentendida mesmo, sabe? Eu sou defensora desse momento. Porque, amigos, mal dá pra gente se desconectar desse mundo, se a gente não aceitar sem culpa o momento de só assistir um videozinho de um youtuber que você nunca ouviu falar mas que tem mais de 3 milhões de inscritos para deixar o seu cérebro boiar no meio do caos, boa sorte, a contagem regressiva da explosão será iniciada.
Você consegue lembrar quando a procrastinação começou a ter espaço na sua vida? A gente tem mania de culpar o mundo hoje por ele ser essa doidera hiperconectada, mas quem era você na sexta série, num domingo à noite? Quem já estava com a mochila organizada para o dia seguinte ou quem chegava na sala falando baixinho: “mããããe, amanhã tem que levar uma maquete para aula”. Consegue adivinhar qual delas eu era?
O que mais me incomoda na procrastinação, apesar de eu ser defensora dela, é o fato de não conseguir nem relaxar quando tô procrastinando. A Camila Fremder, dona e proprietária desse podcast super citado nesta news tem uma defesa: “a gente que trabalhar com criatividade, tá sempre trabalhando, então não precisa ver a procrastinação como algo ruim. Se eu tô no supermercado, eu tô pensando naquele texto, se eu tô fazendo cocô, estou criando.” E tá errada? Não tá.
O que mais me incomoda na procrastinação, apesar de eu ser defensora dela, é o fato de não conseguir nem relaxar quando estou procrastinando.
Mas essa (des)atividade é sacana, especialmente quando é outra pessoa que procrastina com a gente. A onda bate diferente, né? Sabemos que nem sempre dá tempo de responder todo mundo pelas redes, assim como sabemos que nem sempre estamos prontos ou afim mesmo de responder. E que tudo bem. Não é sinônimo imediato de que estamos de mal com a pessoa do outro lado ou que não queremos contato nunca mais. Os motivos são muitos, principalmente o simples fato de que… adivinha? Estamos procrastinando.
Newsflash: você tem controle sobre o seu celular
Certamente você já viu isso por aí e sabe que tem como “bloquear” seu celular após um determinado tempo de uso. E também é óbvio que eu sei como é colocar um limite para você mesmo e facilmente quebrá-lo. Estamos falando com uma doutora no assunto aqui, dá licença.
Mas, ainda assim, existem muitos apps e hacks para diminuir o uso do celular, especialmente daqueles momentos que você “só vai no banheiro rapidinho” e fica 40 minutos scrollando o dedinho na tela.
No final desta news, tem um link muito especial com quotes como: “Nem acordamos direito ainda, mas já sentimos diversas emoções a partir das vidas dos outros”, que nos fazem repensar o uso não só como um motivo para deixar o que precisa ser feito pra lá, mas também como ferramenta de auto sabotagem e comparação. Além de oferecer ideias bem boas de como diminuir o uso desse aparelho pró procrastinator.
EXTRA: você tem controle sobre você mesmo
Trabalhar remoto requer um nível ainda maior de concentração e organização — o que, pra mim, é um dos maiores desafios. Mas, onde quer que você esteja, a auto observação é um exercício importante para você identificar padrões no seu comportamento. Por exemplo, me ajudava muito a focar colocar os fones de ouvido e ouvir uma playlist específica para esse momento. Trabalhando de casa, mesmo que eu desse play na mesma playlist que me ajudava no escritório, o efeito não era o mesmo. Levou um tempo para eu descobrir que o que realmente fazia efeito era usar os fones de ouvido em casa também, pois ouvir na caixinha de som confundia meu cérebro de que ouvir música alta em casa era hora de lazer, e não de trabalho.
Acho mega importante ressaltar que nem sempre a solução está em ler um textão na internet, fazer planos e planilhas, criar eventos e notificações, desligar o celular, correr no parque. Às vezes o motivo que nos tira a concentração está dentro de você, em células e moléculas microscópicas que precisam ser analisada e estudadas. Dislexia e déficit de atenção são assuntos sérios e realidades muito comuns (muito mais do que se imagina!), que podem ser tratados e oferecer a você uma vida com muito mais controle e produtividade. Procure profissionais da psicologia ou neurologia para descartar ou tratar essas hipóteses.
Bom, deu né. Se você chegou até o fim desse texto sem procrastinar, você é incrível. Se você deixou numa aba e foi indo e voltando, mais incrível ainda. Se você só leu essa última frase ou só scrollou a tela, ótimo: aqui está um minuto para você procrastinar sem culpa. De nada.
- O link que falei lá em cima sobre detox do seu celular.
- Procrastinação pode vir do que te deixa ansiosx. Aqui tem 4 perguntas pra te ajudar a administrar isso.
- Dá para apresentar suas qualidades sem se transformar em uma marca.
Esse texto foi escrito pela Manu e enviado para quem segue nossa newsletter no dia 21/01/20.